PEDRO e PAULO: duas colunas e uma Pedra angular

Data:

“Quem
dizem os homens ser o Filho do Homem?”
(Mt 16,13)

 

O evangelho indicado para a festa de S. Pedro e
S. Paulo nos situa diante de uma pergunta provocativa de Jesus:
“e vós quem
dizeis que eu sou”.

Tal pergunta, dirigida aos discípulos e a cada um de nós, não só ajuda a
des-velar (tirar o véu) a verdadeira identidade de Jesus como também nossa
identidade original.

Pedro, ao responder – “Tu és o Messias…” – no fundo, estava
também deixando transparecer sua própria nobreza interior, aquilo que é o
fundamento e sobre a qual se pode construir toda uma vida.

E Jesus, como verdadeiro “pedagogo”, explicita o
que estava escondido nas profundezas do coração de Pedro.
“Tu és “petra” (rocha, base sólida)”.
Essa é a verdadeira identidade de Pedro.

Ressoa no interior de cada um de nós esta mesma
voz:
“Tu
és rocha…”

O coração de cada um está habitado de sonhos
de vida, de futuro, de projetos; sente-se seduzido pelo que é verdadeiro, bom e
belo; busca ardentemente a pacificação, a unificação interior, a harmonia com
tudo e com todos…; sente ressoar o chamado da verdade, o magnetismo do amor,
da plenitude; sente-se atraído por um desejo irreprimível de
auto-transcendência, de crescimento, de maturidade.

Só a partir da vivência e da
solidez interior poderemos descobrir o que significa Jesus como
“Messias, o Filho do Deus vivo”. Só a partir da identificação com Ele
é que poderemos também descobrir nossa original filiação, fundamento de nossa
vida:
“somos filhos e filhas do Deus vivo”.

A filiação é a solidez que
nos unifica a todos; ela é a base que sustenta nossa identificação com Jesus
Cristo.

 

Não é fácil tentar responder com sinceridade à
pergunta de Jesus:
“Quem dizeis que eu sou?”. Na realidade, “quem é Jesus para nós?” Sua pessoa, seu modo original
de ser e viver, chega a nós através de vinte séculos de imagens, fórmulas,
devoções, experiências, interpretações culturais… que vão desvelando e
velando ao mesmo tempo sua riqueza insondável.

Mas, além disso, cada um de nós vai revestindo a
Jesus com aquilo que nós somos. E acabamos projetando n’Ele nossos desejos,
aspirações, interesses e limitações. E, quase sem nos dar conta, O apequenamos
e O desfiguramos, mesmo quando queremos exaltá-lo.

Mas
Jesus continua vivo e sua presença, na história da humanidade, sempre se revela
provocativa e surpreendente. Na realidade, o que notamos é que grande parte dos
cristãos não seguem e não se identificam com a Pessoa de Jesus; seguem
doutrinas, ritos, algumas obrigações legais… que não tem impacto no modo de
viver de cada um.

Mas
Jesus não se deixa etiquetar nem se deixa reduzir a alguns ritos, algumas
fórmulas ou alguns costumes.

Jesus
sempre desconcerta a quem se aproxima d’Ele com atitude aberta e sincera. Ele
se revela sempre diferente daquilo que pensamos e esperamos. Sempre abre novas
brechas em nossa vida, rompe nossos esquemas e nos atrai a uma vida nova.

Quanto
mais O conhecemos, mais sabemos que ainda estamos começando a descobri-lo.

 

Responder à pergunta – “quem dizeis que
eu sou?”
é
“perigoso” porque nos compromete com o modo de
viver de Jesus: sua liberdade
perante as tradições religiosas, sua relação com os mais pobres, sua opção
clara em favor de uma causa humanizadora (Reino), a vivência dos valores
presentes nas Bem-aventuranças, a visibilização do mandamento do Amor…

Literalmente falando, Jesus é um “subversivo”,
pois sub-verte nosso modo fechado de viver e de nos rela-cionar com os outros.
Percebemos nele uma entrega livre que desmascara nosso egoísmo; Ele revela uma
paixão pela justiça que sacode nossas seguranças, privilégios e busca de poder;
transparece n’Ele uma ternura que deixa descoberto nossa mesquinhez, uma
liberdade que põe às claras nossos apegos e dependências.

E,
sobretudo, vemos n’Ele um mistério de abertura, proximidade e intimidade com o
Deus da Vida, que nos atrai e nos convida também a abrir nossa existência à
intimidade com Ele.


iremos conhecendo Jesus na medida em que nos identificamos com Ele e nos
revestimos de seus sentimentos, valores, critérios… Só há um caminho para
aprofundar em seu mistério: segui-Lo; seguir humildemente seus passos,
abrir-nos com Ele ao Pai, prolongar seus gestos de amor e ternura para com
todos, olhar a vida com seus olhos, compartilhar sua fidelidade à causa do
Reino…

 

S. Pedro e S. Paulo viveram, por caminhos
diferentes, um original encontro com o Mestre da Galiléia. Encontro que
des-velou e extraiu o que havia de mais nobre e humano no coração de cada um
deles
(“tu
és
rocha” – “tu és
paulo”).

Foi esta solidez interior, que se visibilizou na maneira original de cada um
seguir Jesus Cristo, que os transformou em colunas da Nova Comunidade dos
seguidores do Nazareno.

A eles foi conferida uma “autoridade”
como caminho para o serviço e a promoção da vida.

Jesus compartilha com eles sua mesma “autoridade”
que não tem nada a ver com o poder que domina ou a liderança que
se impõe. Jesus tem “autoridade” porque o “centro” está no outro;
Ele veio para servir.

A expressão “autoridade” vem
do verbo latino “augere”, que significa literalmente: aumentar,
acrescen-tar, fazer crescer, dar vigor, robustecer, sustentar, elevar, levantar
o outro, colocá-lo de pé, impulsioná-lo para frente… É a qualidade, a virtude
e a força que serve para apoiar, para alentar, para ajudar as pessoas a serem
elas mesmas, para fazê-las crescer, desenvolvendo suas próprias
potencialidades.

“Autoridade” significa recuperar a autoria, ativar
a autonomia àquele que está impedido de optar e de fazer seu caminho. Nesse
sentido, a autoridade nunca é perigosa para a pessoa, jamais é imposição
ou atentado contra sua legítima autonomia ou liberdade. A autoridade é
essencialmente amor.

 

Também o exercício da autoridade deve ser
medido pela palavra e pela obra de Jesus Cristo. E não pode ser de outra
maneira, já que, se a origem da autoridade na Igreja é divina, também deveria
ser “divina” o modo de exercê-la. Se toda autoridade provém de Jesus,
deveria ser exercida à maneira como Jesus a exerceu, e isto vale tanto para
aqueles que detém uma autoridade instituída como para aqueles que, devido às
suas qualidades e carismas, exercem, de fato, autoridade de serviço nas
comunidades cristãs.

Neste “como” se exerce e deve ser
exercida a autoridade na Igreja está o desafio que as comunidades cristãs
devem assumir.

O
Evangelho de hoje é claro quanto à maneira como se deve exercer a autoridade:
a partir do serviço. Aquele que serve não domina, convertendo-se
no centro, mas anima e integra o diferente. Aquele que serve, despoja-se de
seus interesses privados e investe sua vida em benefício de todos.

Isto
significa que todos aqueles que exercem a autoridade hão de voltar
sempre ao manancial de onde brota o autêntico ser da Igreja, que é a palavra e
a ação de Jesus. Não deve existir autoridade na Igreja que esteja por cima da
ação do Espírito; ela não deve buscar outra coisa a não ser a vinculação de
todos os membros da Igreja no amor e no serviço mútuo. Uma autoridade que se
desvincula do “carisma de autoridade” do Espírito tende sempre a converter a
instituição em um fim, esquecendo que só pode ser justificada na medida em que
serve à obra do Espírito.

 

Texto bíblico
Mt
16,13-19

 

Na oração: Suplicar a graça “do conhecimento interno de Jesus

                     para
mais amá-lo e mais segui-lo”

(S. Inácio).

“Conhecimento”
que faz emergir aquilo que é o melhor em seu in-terior,
a verdade da sua pessoa, para que você consiga
ter uma visão ampla de si mesmo(a) e realizar-se da melhor maneira possível,
ativando suas potencialidades. Cada um(a) é diferente, único(a), com saberes,
expectativas, medos, ansiedades e desejos, pontos fortes e fraquezas, com seu ritmo
e modos próprios de viver…

– Deixe
ressoar em seu coração a voz de Jesus:
“Tu és rocha
firme, sobre a qual quero construir minha morada, em comunhão com o Pai e o
Espírito Santo”.

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