“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha” (Mc 9,2)
É aqui, onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal; trata-se do coração, da dimensão mais verdadeira de si, da sede das decisões vitais, lugar das riquezas pessoais, onde ela vive o melhor de si mesma, onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde partem as suas aspirações e desejos fundamentais, onde percebe as dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.
Uma das características do mundo pós-moderno é a transformação, a evolução, a mudança. O Evangelho deste segundo domingo da Quaresma nos revela que é possível “transfigurar-nos” se formos capazes de descobrir a Presença transformadora de Jesus em nós no caminho que nos cabe viver, na subida ao monte (Sinai, Hermón ou Tabor), símbolo do divino. É a subida da consciência, do conhecimento interior, dos sentimentos elevados, dos desejos mais nobres... que brotam do mais profundo de nós mesmos.
Aqui, a pessoa experimenta algo essencial em sua vida: sente-se como filho(a) amado(a). Já paramos para pensar o que realmente significa ser “filho/a amado/a”?
Deus conhece nossas necessidades, nossos desejos, nos oferece a oportunidade de renascer, de transfigurar-nos. Em todo momento nos comunica sua Vida, a única. Somos portadores do divino. No mais íntimo de nosso ser ouvimos sua voz: “Escutai o que Ele diz!”. Uma voz que mobiliza o há de melhor em nós. É preciso distingui-la daquelas vozes que nos atordoam, confundem ou violentam, das palavras falsas, vazias, carregadas de promessas e mentiras que, lamentavelmente, são pronunciadas sem pudor.
Somos vida transfigurada na qual todos estamos implicados.
Diante de um contexto mundial tão obscuro faz-se urgente despertar em nós os atributos mais humanos e divinos para sermos pessoas de luz, pessoas que, através dos estilos de vida sintonizados com a natureza, brilham com luz própria. Somos, na essência, “seres translúcidos”, que deixam passar a Luz divina presente em nós. A Luz existe desde o princípio e a nós cabe sermos testemunhas dessa Luz e, portanto, seres que deveríamos transluzir essa Luz eterna em nosso agir cotidiano.
Seguramente que não podemos ser translúcidos sempre e em todo momento; assim como o sol, um astro que brilha sempre, mas só chega a nós algumas horas do dia.
Mas, podemos ser translúcidos a maior parte do tempo, levar a Luz que brilha desde toda a eternidade e fazê-la brilhar na obscuridade que nos rodeia. Sejamos translúcidos, mostremos a Luz!
A Transfiguração não é algo externo, uma mudança de disfarces como no carnaval, mas é um abrir-se à realidade cotidiana e cair na conta de que a vida e a história estão cheias de sentido, de vida.
Há pessoas que transfiguram a guerra em paz, o pecado em graça, o ódio em respeito e amor, a enfermidade em fonte de reflexão e aceitação da própria finitude, o desespero em esperança...
Isso acontece também no campo da arte, da estética: no fundo, é uma transfiguração do ferro, da madeira, da pedra, da linguagem, dos sons e nos transportam a um “mais além”.
Um entardecer, um encontro, uma oração, podem transfigurar nosso ser, nossa existência para a verdade, a bondade ou a beleza.
Quando participamos de uma celebração de exéquias, evocando a morte dos seres queridos, somos transportados, transfigurados e isso nos leva a outras realidades de esperança, casa do Pai etc.
O mundo de hoje pede pessoas capazes de transformar, de transfigurar, de proclamar uma Palavra de verdade, de bondade, de estética, de ideais, valores, caminhos...
Viver é transfigurar a existência, transcendê-la. A experiência, o encon-tro com Cristo transforma, transfigura nossa vida e a enche de paz, de luz, de sentido.
Texto bíblico: Mc 9,2-10
Na oração: Transfigura tua
existência, eis a questão!
Desapega-te de teus
problemas, suba, mesmo que te custe. Busque companheiros que te ajudem a
situar-te a partir de uma perspectiva de pássaro, onde o ar seja mais puro e a
Luz mais clara. Encontra teu Tabor, onde possas sentir a presença do Amor mais
puro, onde possas descansar, onde possas descobrir tua verdadeira identidade e
o que é essencial para tua vida. Desapega-te do celular, esquece tua agenda,
silencia tantos toques. Abandona tua pesada bagagem de preocupações e coisas
que não precisas. É teu Tabor.
De tempos em tempos é preciso subir teu
Tabor, mesmo que custe desprender-te do passado e do pesado.
- Você é uma pessoa que transfigura um
nascimento na família, um sofrimento, que transforma o trabalho, a convivência?
Está aberto(a) à transfiguração da grande noite da vida?