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Cartas de itaici


A Mística dos Exercícios Inacianos

Inácio, em poucas palavras, revela (EE 15) sua crença fundamental, fruto da sua experiência consigo e com outros, confirmada pela fé que anima a Igreja: o Criador age imediatamente na criatura!

Recordemos São Paulo:

Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus… recebestes um Espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos “Abbá! Papai!”. O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus… Assim também, o Espírito socorre a nossa fraqueza, pois não sabemos o que pedir como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que sonda os corações sabe qual o desejo do Espírito… (Rm 8,14-27).

Sendo assim, entende-se que quem vier a orientar alguém que estiver fazendo os Exercícios não se porte como conselheiro, nem tente inclinar a pessoa a tomar uma direção ou outra, ainda que em si e para a pessoa muito boas, porque

É mais conveniente e muito melhor que — a pessoa que se exercita — procurando a vontade divina, o mesmo Criador e Senhor se comunique à pessoa espiritual, abrasando-a em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor poderá servi-lo depois (EE 15).

O nosso Deus é o “Deus Consolador” (Jo 14,16.26; 15,26; 16,7; Rm 15,5; 2Cor 1,3). Nas consolações espirituais, quando há aumento de fé, esperança e caridade (EE 13), nós percebemos por onde vamos nos orientar. Daí que os Exercícios Espirituais se caracterizem por uma “oração discernida”. Podem ser alguns exercícios preparatórios para iniciantes, podem ser exercícios adaptados a fins de semana ou a semanas, ou podem ser completos ou cotidianos… Só serão autênticos se derem espaço ao exercitante para estar com o seu Criador, deixando que Ele o purifique das suas afeições desordenadas e lhe manifeste o seu benquerer, a sua vontade (EE 1 e 2). Isto é o que caracteriza e diferencia o que chamamos de “oração inaciana”: oração pessoal com discernimento.

Nas pessoas que, purificadas das suas afeições desordenadas, começarem a viver a Aliança com Deus Fiel, seguindo Jesus, na amizade do Espírito, Deus é o “dono da casa”. Nela entra e se move sem esbarrões nem ruídos: “Não tenham medo! Sou Eu! A Paz esteja com você!”. Afinal Ele é Aquele que “pensa pensamentos de paz e não de aflição” para nos dar “um futuro de esperança” (Jr 29,11-12)!


E  X  E  R  C  Í  C  I  O

A bagagem da minha vida
Meu jugo é suave e o meu peso é leve.
Mateus 11,30


Acalmo-me! Faço calar dentro de mim palavras e pensamentos. Tomo consciência dos sons ao meu redor: os mais próximos, os mais distantes; os mais agradáveis, os menos agradáveis… Tento perceber as sensações do corpo: sinto cansaço, dor, paz? Respiro várias vezes, profundamente. Inspirando o ar puro, inspiro vida, o dom do Deus da vida. Expirando, vou entregando-me nas mãos deste Deus da vida. Acolho a paz, descansando na presença de Deus, que inunda o meu ser.

Rezo… Hoje, quero rezar a bagagem da minha vida. Peço a Maria, Senhora e Mãe dos meus passos, que me acompanhe no percurso dos dias e anos…

Imagino-me diante da minha mochila… Posso colocar nela tudo o que levo comigo, desde os anos da minha infância até agora. Os dias felizes e os menos felizes. Tudo o que me pesa e me aborrece. O que sinto como importuno. O que me pressiona e me abate. Talvez alguma coisa que me parece insuportável…

Com certeza vou colocar coisas e experiências bonitas e enriquecedoras na minha bagagem. Guardo-as com carinho. São importantes para mim…

Dirijo-me ao Senhor e Amigo, falando sobre o conteúdo de cada situação da minha vida que fui “empacotando” na “mochila”, a bagagem da minha vida… Conforme o que sinto, ora louvo: “Bendize, ó minh’alma, o Senhor! Jamais esqueças de todos os seus benefícios” (Sl 102[3],1); ora suplico: “Ó Deus, ouve o meu grito, atende a minha prece!” (Sl 61[60],2). Volto-me ao Senhor Jesus, que me afirma: “Meu jugo é suave, meu fardo é leve” (Mt 11,30).

Quando for terminando o tempo que tenho para rezar o que pus na “mochila”, pego-a para sentir o seu peso diante do Senhor, na consideração simples e sincera da fé. O que me ocorre? O que constato? Rezo conforme sinto: louvo, agradeço, suplico, insisto…

Quem sabe poderei concluir a oração com sentimentos de total confiança, cantando “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura a mão de Deus e vai!”…

Faço memória, registrando no meu caderno de “Anotações” as maravilhas que o Senhor operou em mim na estrada da vida.

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010

Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ