O que são “Exercícios Espirituais”? Santo Inácio de Loyola responde no seu genial livrinho, que intitulou simplesmente Exercícios Espirituais [EE], nas “Anotações para se adquirir alguma compreensão deles e ajudar tanto quem os dá como quem os recebe”:
“Deus viu tudo o que tinha feito, e viu que era muito bom” (Gn 1,31)
Acalmo-me! Inicio este primeiro exercício detendo-me um pouco nas sensações do meu corpo. “Repasso” o meu corpo da cabeça aos pés. Minha respiração é a minha melhor amiga: dou-me conta da minha respiração. Presto atenção ao ar que entra e sai nas minhas narinas. Simplesmente vou sentindo… Pacificando-me, respiro mais profundamente, agradecendo este dom: o sopro da vida!
Rezo! Recordo-me das situações da minha vida quando alguém me elogiou, quando senti que alguém era grato e reconhecido a mim, ao que tinha feito: “Foi bom o que você fez!”. Dou-me conta da alegria, da intensidade de vida que se une à palavra “bom”! E tendo Deus criado o cosmos, os seres vivos, diz a Escritura: “E Deus viu que isso era bom” (Gn 1,26) Ao criar, porém, o homem à sua imagem e semelhança, lemos: “Deus viu tudo o que tinha feito e viu que era muito bom” (Gn 1,31)
Deus me diz: “Você é bom! Você é boa!”. Ele é a meu favor! Recordo os dons, as capacidades que dele recebi. O que o meu coração me diz? Paro. Saboreio. Agradeço. Posso constatar que o meu corpo é bom! Os meus pés são a base da minha locomoção, com eles posso ir e vir: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz boas-novas e anuncia a libertação…” (Is 52,7). As mãos, com as quais seguro com a ajuda dos dedos os objetos de trabalho… Percorro os sentidos nos seus pormenores tão perfeitos… Penso nos órgãos e suas funções: a respiração — que dádiva o ar que sustenta a vida! A visão, a audição, janelas abertas que me trazem as sensações e geram conhecimentos mil. O paladar, que aguça o apetite e faz que eu me alimente e sustente a vida… E os órgãos internos: o coração, verdadeira bomba que dá vida ao corpo; os pulmões, que providenciam a oxigenação do meu corpo. E o cérebro! Lembro a inteligência, a memória, a vontade e toda a capacidade de registrar sensações, emoções, pensamentos…
Com que sentimentos respondo ao meu Deus pelas dádivas e pelos benefícios recebidos, como ser humano criado? “Vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes” (Sl 8,6).
Quero experimentar este louvor de coração grato e contente? Digo a Ele, e até canto, se conheço, a melodia — sem pressa de ir adiante —, unindo-me a São Francisco de Assis: