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Cartas de itaici


A Carne Pecadora

Sim, a “carne” leva a culpa… Mas não é “a carne” que peca! Inácio nos explica com singela clareza e total honestidade o que se passa com o nosso espírito, que se decide a resistir à tentação ou, desgraçadamente, a ceder.

Por exemplo: “Vem um pensamento de cometer pecado mortal. Resisto prontamente e ele fica vencido… Ele volta a vir uma e outra vez, e eu sempre lhe resisto, até que ele se retire, vencido” (EE 33-34). Isto é: tive uma tentação e, com a graça de Deus, venci! Apenas cometerei pecado quando me decidir, infelizmente, a aceitar a insinuação do mau pensamento, querendo até, se possível, praticá-lo. O pior é quando chego a praticar mesmo!

Portanto, o pecado vem de uma decisão livre do meu espírito: ele vê a maldade do pensamento, deixa-se enamorar por ela e consente com a ideia de praticar a má ação.

O pecado é um ato livre e espiritual. Por isso Inácio coloca-nos, logo no início dos Exercícios, diante do “pecado dos Anjos”. Anjos são criaturas espirituais. Não têm carne. O pecado de que são capazes é o do orgulho.

E o que nós temos a ver com o pecado do orgulho? Muito! Todo pecado, leve ou mortal, tem origem no orgulho: acho que no meu caso “aquele” mandamento de Deus não está valendo, ou que me atrapalha e contraria, e decido-me pelo que vejo ser mau. Na prática penso e atuo com orgulho, colocando-me como senhor, sem respeito nem carinho pelo Senhor. Não ligo para o que o Pai sente, tal como o filho pródigo da parábola, que só quis considerar os seus próprios sentimentos e desejos. Fecho os olhos ao modo de proceder do Filho, Jesus, que me convida ao seu seguimento e à sua imitação. Resisto ao Espírito que me foi dado e que clama em mim pelo Pai. Desprezo a Trindade. Peco. Que desgraça!

Faço memória do que a Escritura nos ensina a respeito do pecado e da misericórdia. Uno ao que tenho aprendido na “rua da minha vida”. Depois, reflito, sem pressa de ir adiante, sempre colocando para o Redentor o que me toca, tenta, questiona, aflige, anima… Uso, assim, o meu entendimento. Vou prestando atenção no que toca a minha vontade, no que me afeta, nos meus afetos. Então eu os apresento a Deus, querendo assumir, com a sua graça, humildemente pedida e confiantemente esperada, as boas “moções”, inspirações que ele me dará. Assim, nesta etapa, vou fazendo oração com todas as minhas capacidades, as três “potências” ou capacidades: memória, inteligência e vontade. Este tipo de oração se chama “meditação”.

E  X  E  R  C  Í  C  I  O  :
Meditando sobre o pecado dos anjos(Ap 12,7-9; EE 50)

Preparo-me, prevendo o tempo, o lugar, a posição corporal e a maneira (o caminho) de orar. Aqui vou rezar pelo modo que se chama “meditação”.

Pacifico-me, respirando calma e profundamente. Posso também retomar algum dos exercícios anteriores de pacificação. Leio os versículos indicados. Peço a graça de dar-me à oração. Rezo a oração preparatória de costume.

Noto: no exercício da “meditação”, a memória é um olhar global sobre o assunto a meditar. A inteligência (entendimento) ajuda-me a pormenorizar o que a memória traz à tona — sempre atendendo ao que me toca e move para pedir, louvar, ou parar para mais saborear e perceber o que me vai sendo dado pelo Espírito. Reflexão orante! Nela a vontade ora se deixa tocar, mover, expandir-se em afetos de amor, intimidade; ora toma decisões, assumindo as inspirações e repelindo as tentações e seduções com a oração.

Começo o meu exercício procurando ver (Ap 12,7-9), com os olhos da imaginação, os anjos do céu divididos, parte deles rebeldes a Deus.

Peço a graça do Espírito para entender o pecado: negação, rebeldia, esquecimento de Deus, recusa de reconhecê-lo como nosso Senhor.

Considero como o pecado dos anjos precede a história da humanidade. Como os anjos são criados plenamente lúcidos, livres, chamados a ser mensageiros de Deus. Seres livres, eles podem reconhecer ou negar amar a Deus acima de si mesmos e de qualquer outra coisa: amar a Deus sobre todas as outras realidades, pois Ele é Bondade, Beleza, Unidade, Fonte de todo o bem que se possa encontrar em qualquer criatura. Mesmo nos querubins e serafins!

Alguns destes belos seres se negaram a escutar o Pai, a imitar o Filho e a se deixar conduzir pelo Espírito. Negaram o Amor de Comunhão, a Trindade!

A liberdade do anjo é perfeita. A sua decisão, definida e definitiva: Não servirei! Minha decisão é humana, condicionada, incompleta. Mas… Como uso ou abuso da minha liberdade? Tenho tido, ao longo da vida, atitudes de poder, autossuficiência, orgulho, arrogância diante do meu Deus, Único e Verdadeiro? Dos seus mandamentos? Diante dos seus filhos e filhas, meus irmãos e irmãs? Relembro…

Reflito sobre mim mesmo(a), ora suplicando, ora agradecendo, ou pedindo que meu coração se incline amorosa e reverentemente diante do Senhor: “Meu Senhor e meu Deus! Tu és minha vida; outro Deus não há!”.

Rezo com o Salmista: “Então, eu te confessei o meu pecado! Não disfarcei a minha culpa!” (Sl 31,5).

Recolhendo o que me foi dado sentir e perceber, abro-me num “colóquio” com Jesus crucificado por mim: “Que tenho feito de minha vida? Que queres que faça de minha vida?”. Rezo um Pai-nosso.

Revejo. Anoto algo para guardar e aproveitar para perceber a linha pela qual me impele o Espírito de Jesus.

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ