(EE 23)

As pessoas gostam de liberdade. Acreditam que são livres e que têm o direito de tomar decisões. Decerto, concordamos com Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma” (1Cor 6,12). Não se escravizar a nada! Ser verdadeiramente livre! É exatamente isto que Inácio nos propõe nessa forma simples e lapidar que acabamos de ler. Aí estão todas as coisas: na fé, as vemos existentes pela bondade sempre atuante de Deus. Existem só para nos ajudar. Não para nos impedir, atrapalhar, magoar! Como usá-las? “Tanto quanto” sirvam ao fim para o qual somos criados, “o que é verdadeiro, nobre, puro, amável, virtuoso” (Fl 4,8).

Paulo ensina: “Procurai as coisas do alto, onde o Cristo está sentado à direita de Deus, e não as da terra, pois morreste, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. E quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então vós também estareis manifestados em glória” (Cl 3,1-4).

Paulo, como chegaremos à liberdade? “Mortificai os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça, que é idolatria… Abandonai tudo isto… E tudo o que fizerdes, fazei-o de palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai” (Cl 6,5-17).

Ah! Já dizia o Salmista: “Evita o mal e faze o bem, e para sempre terás moradia, pois Javé ama o direito e jamais abandona os seus fiéis!” (Sl 36[37],27-28).

“Para a liberdade fomos libertados” (Gl 5,1). A vida boa e feliz é de quem ganhou, no coração, a graça de procurar, em meio a tantas opções, fundamentalmente, o que é bom, o que é melhor, o que é perfeito, o que é conforme ao Coração do Cristo.

Acalmo-me. Ponho-me a escutar… Posso até tapar os ouvidos com os polegares e com os outros dedos, de leve, fechar os olhos. Sinto… Percebo as vibrações… A própria respiração… Agora tento perceber o canto dos passarinhos: sons agudos… sons mais suaves… Todas as aves do céu cumprem a sua missão: cantam e não param de cantar. Com elas, também eu canto louvores ao Criador e agradeço a quem nos deu ouvidos.

Rezo! Peço a graça de fazer-me livre… De desejar e escolher somente aquilo que mais e melhor me conduz ao fim para o qual fui criado… Querer apenas o que me realiza de verdade!

Tomo o Salmo 8: “Vendo a lua e as estrelas brilhantes, perguntamos: Senhor, que é o ser humano para dele assim vos lembrardes?”. Aceito o ser humano, centro da criação, cocriador com Deus no seu projeto de mais vida para todos nós?

“Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor!”: percebo a minha vida alicerçada no projeto amoroso de Deus para as suas criaturas?

“Vós lhe destes poder sobre todas as coisas, vossas obras a seus pés colocastes”: há alguma afeição que esteja me impedindo de ser livre no meu relacionamento com as coisas… com as pessoas… com Deus? Qual? Como me prende? Sinto-me capaz, com a graça de Deus, de criar e transformar os relacionamentos com a natureza e as pessoas? Afinal, “a glória de Deus é a vida humana!”.

Percorro agora o Salmo todo, sem pressa, suplicando para estar integrado plenamente no projeto do Criador!

Finalizo! Entrego-me nas mãos do Pai que me criou livre. Que eu possa viver o dom da liberdade autêntica, para ser mais filho, filha, e mais irmão, irmã! Concluo rezando o Pai-nosso.

Revejo, noto e anoto aquilo que me tocou mais, a moção interior principal!.