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Cartas de itaici


Título, Pressuposto e Princípio e Fundamento dos Exercícios Espirituais (1) - Antes de mais nada: Título e Pressuposto

Inácio assim intitulou o seu “livrinho”: “Exercícios Espirituais para vencer-se a si mesmo e ordenar a própria vida, sem se determinar por nenhuma afeição desordenada”. Assim, ele procura dar oportunidade ao cristão de ter um processo e maneiras de ordenar as suas afeições, os seus desejos e as suas intenções. Isto é: com a graça de Deus “vencer-se a si mesmo”. Deste modo, o exercitante seguirá a vocação batismal de viver a vida nova, a vida no Espírito, escutando o apelo à conversão que abre o caminho para o Evangelho do Reino (Mt 4,23; Mc 1,14.15). Convertido, o cristão já não corre o risco de tomar decisões cegado por paixões e interesses, pela força de preconceitos e por maus hábitos ou vícios.

Por isso mesmo o cristão vive na graça de estar livre para amar e servir. Pode ouvir a Palavra de Deus, consultar os seus apelos e inspirações, ouvir a Igreja e tomar um rumo marcado pelo Evangelho e pelo serviço do Reino, o compromisso com a missão que Cristo confere aos discípulos.

Esta dupla finalidade expressa no título corresponde ao que se chama, na tradição da Igreja, “via purgativa”. Nela o cristão se empenha em cooperar com a graça santificante para uma maior purificação, maior conversão. Convertido, o cristão pode empreender a “via iluminativa”. Com liberdade interior crescente, ele se deixa inspirar para “buscar e encontrar a vontade de Deus” na realização da sua vida (EE 1). Os Exercícios são, portanto, um meio dado à Igreja (e por ela aceito e recomendado) para que o cristão se ajude a viver a sua realidade e a sua missão.

Antes de mais nada, contudo, Inácio coloca um “pressuposto” (EE 22), a fim de ajudar “tanto quem dá os Exercícios como quem os recebe”. E é uma ajuda muito necessária! De fato, todos nós temos experiência de como a palavra humana é limitada e como tantas vezes, mesmo de bom conteúdo e bem-intencionada, “pega mal”. Assim, causa problema e desentendimento, em vez de ser ponte, porta, comunicação. Há uma brincadeira sobre a “ordem do general”, que vai passando para o coronel, o capitão, o sargento, o cabo, até o soldado, ao qual chega completamente distorcida! E o povo diz com sabedoria: “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Por isso é preciso prudência e boa vontade. Não confiarmos demais no que dizemos e no que ouvimos. Pode acontecer — e acontece — que digamos o que não pensávamos dizer ou ouçamos o que não foi dito…

O remédio está no espírito da correção fraterna evangélica: “Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida… Caso não lhes dê ouvidos, dize-o à Igreja” (Mt 18,15-18). É a grande solução dos conflitos, reais ou não: a caridade. A caridade é “paciente, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor… Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…”(1Cor, 13,4-7).

Por isso, Santo Inácio nos recorda que “todo bom cristão deve estar mais disposto a salvar a afirmação do seu próximo que a condená-la”. E se não conseguir dar-lhe um sentido aceitável? Ah! Neste caso, pergunte a quem falou o que queria mesmo dizer. Se necessário, então, “corrija-o com amor”. Numa situação-limite, muito grave, “se isto não bastar, recorra a todos os meios convenientes para que, entendendo-a bem, seja salva” (EE 22).

A experiência mostra a bondade e a validade deste caminho. Pelo contrário: se algum exercitante, ou acompanhante, ou quem dá os Exercícios escuta uma coisa que “pega mal” e fica “ruminando” de si para si, ou a comenta com um e com outro, só espalha mal-estar, incompreensão e perturba o progresso do próximo!


E  X  E  R  C  Í  C  I  O

Meus pontos de convergência

Acalmo-me! Valho-me novamente da minha respiração para pacificar-me. Sinto a temperatura do ar que passa pelas narinas. Quente? Frio? Tomo consciência dos movimentos que se produzem no meu corpo, nos pulmões, no diafragma… Aquietando-me, procuro entrar no meu “eu” mais profundo. Procuro dispor-me à comunicação com Deus neste silêncio. Posso imaginar que cada inspiração de ar corresponde ao desejo de Deus de dar-se a mim… E que cada expiração expressa o meu desejo de me entregar a Ele, com tudo o que tenho e sou…

Rezo! Invoco o Espírito Santo, pedindo que Ele ilumine a minha mente, o meu coração, e encoraje todo o meu ser para estar à escuta d’Aquele que quer comunicar-se comigo nesta oração.

Reflito sobre a minha condição humana e faço as minhas considerações. Em cada pessoa humana há pontos de convergência ao redor dos quais giram muitas coisas: impressões, pensamentos, decepções, alegrias, empreendimentos… Também na minha vida existem tais vivências… Tomo tempo para ocupar-me delas junto d’Ele…

Presto atenção às últimas semanas. Em redor de que ponto têm girado a minha vida, as pessoas, os pensamentos, as atividades?

Permito-me, então, que volte à tona o que quer que seja… Detenho-me… O que acontece comigo quando assim volto o olhar para esses “pontos de convergência”? O que sinto? Alegria? Gratidão? Preocupação? Aflição? Descontentamento? Digo ao meu Deus o que me ocorrer sobre estes pontos da minha vida. A sua resposta virá como palavra consoladora: que luz ou inspiração surpreendo em mim?. Se me vier escuridão ou ansiedade, simplesmente insistirei na súplica humilde. A consolação virá! Com a ideia que me vier no seio amigo da consolação interior, poderei tomar conselho para acertar (EE 318).

Posso servir-me do Salmo 138(139). Posso cantar: “Para onde irei? Para onde fugirei? Se subo ao céu ou se me prostro no abismo, eu te encontro lá”…

Vou concluindo a oração, com a certeza de que, ajudado(a) pelo Senhor, tudo pode ser reorientado na minha vida. Peço-Lhe que, na força do seu amor, tudo ocupe o seu devido lugar: “Livra-me, Senhor, de todo o mau caminho! Quero viver, quero sorrir, cantar! Pelos caminhos da eternidade, Senhor, terei toda a felicidade!”.

Revendo o meu momento de encontro com o Senhor, vou anotar o que me parece mais importante para crescer no seguimento de Jesus.

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ