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Cartas de itaici


Usando as nossas potências interiores e aproveitando os nossos desejos

Queremos aproveitar os textos das Escrituras para meditar sobre o que o Deus da Vida me dá, “sentindo e saboreando” internamente. Por isso, usamos a memória, a inteligência e a vontade. Assim:

A memória: recordo o texto, a história, deixando as pessoas evocadas pelas palavras virem ao meu coração.

A inteligência: empenho-me em compreender e reflito sobre mim mesmo(a), para tirar algum proveito.

A vontade: disponho-me a dar toda a atenção ao que me tocar, ressoando no meu interior, afetando a minha vontade.

Como diz Santo Inácio (EE 3): “Usamos o entendimento refletindo e a vontade afeiçoando-nos”.
Então, como queremos estar presentes a Deus, Inácio aconselha:

Advirta-se que, nos atos da vontade, ao falarmos vocal ou mentalmente com Deus nosso Senhor ou com seus santos, requer-se, de nossa parte, maior reverência do que ao usarmos o entendimento para compreender.
Isto pode não fazer diferença para Deus, mas é formativo para quem ora!

Em qualquer exercício de oração (“inaciano” ou não!) usamos a memória, a inteligência e a vontade porque somos humanos, e este é o nosso modo de agir. Mas nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio seguimos um roteiro, que corresponde ao do Evangelho: abro-me, para começar, à experiência de conversão, incluindo uma renovação e até uma revolução na minha maneira de “ver” Deus, os outros e a mim mesmo(a). Sendo benfeita esta etapa ou “Primeira Semana”, se sinto em mim o desejo de conhecer a vontade de Deus na minha vida, entro na “Segunda Semana”, a etapa do seguimento de Jesus. Feita minha “eleição”, a escolha do rumo que o Espírito quer dar à minha vida, em seguimento e união a Cristo, serei convidado(a) a ir além, numa etapa unitiva de confirmação pela Paixão (“Terceira Semana”) e Ressurreição (“Quarta Semana”). Este processo completo, feito intensamente, em silêncio e retiro, “se conclui mais ou menos dentro de 30 dias” (EE 4).

Como fica bem claro, Inácio chama a nossa atenção para o nosso modo humano de “funcionar”: convida cada exercitante a orar usando as suas capacidades ou faculdades, olhando o que nos “move” e “toca” interiormente.

Para aproveitar este mergulho no Evangelho com tudo o que sou e como sou, a melhor coisa é começar a exercitar-me espiritualmente com “grande ânimo e generosidade” (EE 5).

Inácio, neste ponto, e ao longo d sua proposta, dá grande importância aos desejos. Comentando a “espiritualidade dos desejos” do bem-aventurado padre Pedro Fabro, o primeiro companheiro de Inácio e primeiro sacerdote da Companhia, que nos deixou um belo diário espiritual, seu tradutor e comentarista, padre Armando Cardoso escreveu:

É útil à vida espiritual nutrir grandes desejos de amor a Deus e ao próximo, mesmo em obras que são ou parecem impossíveis. Embora muitas delas não se realizem, sempre que seus desejos aumentem a fé, a esperança e a caridade em ações práticas e aperfeiçoem a alma, são bons.

Isto é: a melhor condição para alguém mergulhar no Evangelho, querendo “ordenar a própria vida e buscar e encontrar a vontade de Deus em todas as coisas” pelos Exercícios Espirituais, é ver pulsar no coração bom desejo, ânimo, vontade de avançar na vida cristã.

E se não sinto em mim este grande ânimo e generosidade? Disse um grande orientador de Exercícios: “Se não tem anseio de Deus, peça-o. É uma graça que o Senhor concede a todos aqueles a quem deseja revelar-se”.

É experimentar para crer! Bons desejos!

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ