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Cartas de itaici


O jeito tão diferente de Jesus conquistar o mundo (1) (EE 101-109)

Quem faz os Exercícios pergunta: “O que devo fazer por Cristo?” (EE 53). No Exercício do Reino, Jesus, com toda a franqueza, responde (EE 93): “Minha vontade é conquistar toda a terra dos inimigos. Portanto, quem quiser vir comigo há de contentar-se com imitar-me no comer, no beber, no vestir, e assim por diante. Do mesmo modo há de trabalhar comigo de dia e vigiar comigo de noite, a fim de que tenha depois parte comigo na vitória como teve nos trabalhos”.

Definitivamente, Jesus não se parece nem com os Césares nem com os Herodes deste mundo “dos inimigos”. Estes inimigos são os ídolos do egoísmo, do poder, do prazer e do dinheiro. Ele tem um jeito divino, novo e surpreendente de salvar, julgar, corrigir (consertar!). Há imensa diferença de estilos! A contemplação inaciana da Encarnação (EE 101) quer nos fazer intuir e compreender esta diferença, a nossa Boa-nova.

Inácio começa com o olhar da Trindade sobre o mundo, onde há tanta gente em situações tão diversas e em tão grande luta e até perdição! Quando nós mesmos olhamos para as calamidades, injustiças, violências, guerras e doenças, temos reações que vão do indiferentismo de “o mundo não tem jeito, é assim mesmo” à tentação de resolver as coisas “na lei ou na marra”, passando pela pretensão de que teríamos criado o mundo melhor que Deus, quando dizemos “por que Deus fez o mundo assim?”. Tantas vezes ficamos paralisados na descrença do “Deus não existe, porque se Deus existisse seria bom e não poderia permitir tanta desgraça e tanto sofrimento”.

Mas como é o olhar da Trindade sobre a mesma realidade marcada de dores e morte, frutos do venenoso pecado? Como é diferente! Em vez de maldizer nossa condição, seu olhar é de imenso amor e compaixão. Nas suas entranhas de misericórdia (Lc 1,78), a Santíssima Trindade decide: “Façamos a redenção do gênero humano” (EE 107). Conhecendo a nossa perigosa situação — quando matamos, ferimos, vamos para o inferno —, as Pessoas divinas realizam a santíssima encarnação (EE 108). Então, a segunda Pessoa, o Filho eterno do Pai Eterno, assume nossa condição humana e mortal (Fl 2,6-7), insere-se na nossa história (Lc 2,1-3), para que tenhamos vida, e vida em abundância (Jo 10,10). Assim, o jeito do Rei Eterno de conquistar é achegando-se a nós para que o possamos amar. E o seu Reino é de justiça, amor e paz (Prefácio da Missa de Cristo Rei).

Servindo à implantação do seu Reino, serviremos, seguiremos e imitaremos Nosso Senhor. Como cada um vai fazer isto é tarefa para mais adiante, continuando os Exercícios.

|| E  X  E  R  C  Í  C  I  O  ||
EXERCÍCIO DA ENCARNAÇÃO (1)
(EE 102-109)

Procuro harmonizar-me como de costume. Faço a minha oração preparatória.

Recordo a história da encarnação: a Trindade contempla o mundo com olhar de misericórdia diante dos nossos desmandos. Decide salvar a humanidade por Jesus, n’Ele e com Ele. E quer necessitar de uma mulher, Maria de Nazaré!

Composição vendo o lugar: com os olhos da imaginação, contemplo o mundo com as diversas populações, em situações tão diferentes como guerra e paz, para terminar firmando a vista na casa humilde de Maria no povoado de Nazaré, na verde Galileia.

Peço, então, a graça do conhecimento interno do Senhor, que por mim se fez homem, para que mais o ame e o siga. Procuro demorar-me neste pedido, dando tempo a que ele desça ao meu coração e saia dele, com a graça de Deus.

Lembro-me do que o Senhor disse a Moisés: “Eu vi, ouvi, tomei conhecimento e desci”. Isto tem a ver com o modo inaciano de contemplar. O contato com a realidade evangélica se faz também pelos sentidos.

1º ponto — Procuro ver o mundo com os olhos da Trindade: os povos de todas as raças e culturas… As situações em que se encontram: paz e guerra, saúde e enfermidade, sofrendo fome ou uma epidemia de obesidade etc. Como a Trindade envolve este mundo com olhar de misericórdia e compaixão!

2º ponto — Procuro ouvir como falam as pessoas: palavras rancorosas, agressivas, mentirosas, impuras e ímpias… Falta de diálogo, divisão, linguagem de pecado, de ruptura com Deus… Mas muitas falam palavras de ajuda, ensino, alegria! Contudo, a todas a Trindade diz: “Façamos a redenção do gênero humano” (EE 107,2).

3º ponto — Procuro observar o que fazem as pessoas: e o que fazem é consequência do que pensam, sentem e falam, como perseguição e eliminação do mais fraco… Ação em favor da riqueza e poder dos grandes segundo o mundo, gerando toda a sorte de vítimas (Rm 1,29-31)… Como matam, ferem: cultura da morte, da violência… Corrupção, máfias, hedonismo, consumismo, exclusão, destruição do ecossistema em âmbito mais próximo, latino-americano e mundial… Observo, em contraste, quanta ação honesta, boa, criativa!
Ajuda, socorro, solidariedade, festa, comunhão!

E a Trindade, como reage? Não condena a humanidade: “a descida” é o seu amor compassivo (Fl 2,6-10). Então, as Pessoas divinas realizam a encarnação do Filho Eterno no seio de Maria. Detenho-me, sem pressa, e adoro.

Faço-me presente, soltando o meu coração, a minha imaginação, e, na simplicidade, oro, deixando-me tocar pela grandeza deste acontecimento. Assumo o olhar da Trindade misericordiosa e pergunto-me: o que me diz esta realidade para a minha missão? O que me inspira para as minhas atitudes? Como me inserir, encarnar, para aliviar, curar, salvar? Peço ao Espírito que me inspire!

Concluindo, vou recolhendo as moções que surgiram durante a contemplação. Dou tempo ao que me afetou (seus “afetos”), insistindo, por intercessão de Maria, Mãe de Deus, na graça do conhecimento interno (conhecimento que toca, afeta, muda) do Senhor.

Noto e anoto o que for apelo, inspiração… ou resistência. Assim vou continuar no caminho começado.

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ