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Cartas de itaici


Segunda Semana: Etapa do Seguimento: “Mais!”

Era uma vez bem mais crianças do que somos hoje, esquecidos de tudo nas nossas brincadeiras, quando algum adulto despistado chegou para um de nós e perguntou: “O que você pensa da vida? O que você quer ser quando crescer?”. Não pensávamos nada, mas intuíamos que aquilo era coisa importante.

E agora? Somos dos que “vão levando” a vida, sem maiores consequências?

Quando rezamos Princípio e Fundamento, Inácio nos disse: “O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor e assim salvar-se… desejando e escolhendo somente aquilo que mais nos conduz para o fim para o qual fomos criados” (EE 23). Trata-se de escolher bem! De escolher “O Bem”! Escolher, entre tantos bens, o que mais ajuda e convém ao Fim, que é Ele, Fonte de todo Bem, o nosso Criador, Salvador, Deus Amor-amor, Amigo Fiel…

Então, nós nos pusemos a caminho, procurando a graça de sermos purificados dos nossos pecados e libertos das nossas afeições desordenadas. Houve um momento em que perguntamos ao nosso bom Salvador, o Amor Crucificado: “O que devo fazer por ti?”.

Somos, porém, desconhecidos até de nós mesmos. Queremos realmente ouvir a resposta dele? Para que possamos sondar o mistério dos nossos corações, Inácio propõe um exercício-chave: “O chamado do rei temporal ajuda a contemplar a vida do rei eterno” (EE 91-94). Assim nos apresenta uma parábola: um rei convoca todos para uma “cruzada”. Ele é um rei bom e sincero: fala do trabalho duro, dos contratempos, das lutas, da vida e da morte…

Os nossos corações estão prontos para ouvir a sua proposta? Se estão, vamos adiante! Se ainda não, este é o tempo favorável para pedir a graça imensa de “não sermos surdos a seu chamado, mas prontos e diligentes em cumprir sua santíssima vontade” (EE 91).

Este pedido se inspira no Pai-nosso: “Faça-se a vossa vontade, assim na terra como no céu!”. No Batismo, o padre tocou os nossos ouvidos e repetiu a palavra de Jesus ao surdo-mudo: “Éfeta!”, que quer dizer: “Abre-te!”. Para quê? Para que os nossos ouvidos logo se abrissem e pudéssemos dar ouvidos e pôr em prática a Palavra que salva, encoraja e conforta.

Posso pensar num líder, como certas irmãs, párocos, agentes comunitários, chefes de equipe… Imagino se ele ou ela me convidasse para enfrentar um trabalho penoso, mas necessário. Eu aceitaria aderir ao grupo? Ou teria uma boa desculpa para esquivar-me? Tomara que eu não perdesse a chance da minha vida de sair da minha mediocridade e ser realmente útil!

Conheci uma missionária em Angola, nos duros anos da guerra civil. Ela enfrentou, certa vez, a multidão que queria linchar uma pessoa surpreendida furtando alguma coisa. A turba ia colocar um pneu no pescoço dela, amarrar-lhe bem as mãos e atear fogo no pneu! Um assassinato cruel! Ela interveio corajosamente! Arriscando-se, censurou a todos, livrou o homem e foi apelidada de “amiga dos ladrões”. Ela aproveitou a sua chance… Ela aderiu à proposta do Rei Eterno, o Bom-Pastor, que deu a sua vida por nós. Agora, o convite é para mim, e a decisão é minha, com a graça de Deus!

|| E  X  E  R  C  Í  C  I  O  ||

Considerar o rei temporal pode ajudar a contemplar o Rei Eterno (EE 91-100)

Preparo-me, acalmando-me, com o cuidado de sempre. Posso sonhar com um mundo de paz e fraternidade. Será possível? Sim! Vou cantando uma canção que diz:

Quando o dia da paz renascer,
Quando o sol da esperança brilhar,
Eu vou cantar.
Quando o povo nas ruas sorrir
e a roseira de novo florir,
Eu vou cantar.
Quando as cercas caírem no chão,
Quando as mesas se encherem de pão,
Eu vou cantar.
Quando os muros que cercam os jardins,
Destruídos então os jasmins vão perfurmar.
Vai ser tão bonito se ouvir a canção,
Cantada de novo,
No olhar do homem a certeza de irmãos,
Reinado do povo!
Quando as armas da destruição,
Destruídas em cada nação,
Eu vou sonhar;
E o decreto que encerra a opressão,
Assinado só no coração,
Vai triunfar.
Quando a voz da verdade se ouvir,
E a mentira não mais existir, será enfim,
Tempo novo de eterna justiça,
Sem mais ódio, sem sangue ou cobiça, vai ser assim.
(ZÉ VICENTE)

Componho o lugar imaginativo da minha oração. Vou fazendo o meu “mapa do mundo”, percorrendo os espaços da terra. Tantos conflitos! Quanta violência! Pedradas! Tiros! Feridos e mortos! Ódios! Manchetes de tristes notícias!

Penso em ajudar alguém que fosse o promotor da paz para tanta gente. Que as guerras acabem! Que todos se amem e respeitem! Que haja partilha, solidariedade! Imagino alguém capaz, cheio de ideal, que apresentasse um programa realista de trabalho, relações internacionais e governo dos povos… Meu coração ainda acredita? Aceito cooperar, dando de mim, sem medir esforços? Meu coração quer participar, vencendo os medos, sem desculpas?

Peço a graça de saber ouvir, de não me fechar e ficar surdo: “Que eu não me esconda! Que eu atenda!”.

Procuro lembrar-me de quando tive a graça de me perceber vítima do pecado e, no entanto, acolhido(a), amado(a) por ele. Agora é minha vez de acolher Jesus, o Rei da Glória! Ele nasceu em Belém, pobrezinho! Morreu despido e crucificado! Ele, agora, convida e dá a oportunidade de que eu lhe responda, com o coração aberto: “Estou aqui!”. Será uma resposta inspirada e generosa, nascida do perdão que recebi. Minha vocação batismal é para me pôr a serviço do Reino e abrir-me às suas exigências. Rezo. É tempo de concretizar a minha resposta: “Esquecendo o que ficou para trás e avançando rumo ao que está em frente, lanço-me na direção da meta” (Fl 3,7-14).

No colóquio, posso dar ouvidos ao profeta: “Nações, escutai a palavra do Senhor! Levai a Boa-nova até os confins da terra! Não tenhais medo! Eis que vem o nosso Salvador!” (Jr 31,10; Is 35,4). A minha vocação cristã é ser testemunha da paz, contra toda violência, superando as ideologias que animam sistemas injustos. Posso pedir que o meu coração queira se empenhar, com Ele, por Ele e n’Ele, para que as armas da destruição se transformem em instrumentos de trabalho! Termino com o Pai-nosso.

Noto e anoto o que for apelo, inspiração ou resistência. Guardo-o para continuar meu discernimento, percebendo a linha do que o Senhor vai me inspirando.

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ