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Cartas de itaici


Introdução

O que são “Exercícios Espirituais”? Santo Inácio de Loyola responde no seu genial livrinho, que intitulou simplesmente Exercícios Espirituais [EE], nas “Anotações para se adquirir alguma compreensão deles e ajudar tanto quem os dá como quem os recebe”:


Por Exercícios Espirituais se entende qualquer modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal ou mentalmente, e outras operações espirituais, de que adiante falaremos. Assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais, chamam-se Exercícios Espirituais diversos modos de a pessoa se preparar e se dispor para tirar de si todas as afeições desordenadas. E, depois de tirá-las, buscar e encontrar a vontade divina na disposição de sua vida para sua salvação (EE 1).


A palavra-chave é “exercício”. Se você é convidado a fazer “exercícios”, logo entende que vai haver um treino, de acordo com um planejamento e sob a orientação de uma pessoa capacitada. Logo os “Exercícios Espirituais” não são qualquer oração, mas compreendem um trabalho planificado, com orientação e acompanhamento.

Durante a caminhada ou corrida, você estará atento, em silêncio dedicado. Sentirá as mudanças nas batidas do coração e no ritmo da respiração, estará prestando atenção aos movimentos. Nos “Exercícios Espirituais”, seja em retiro, seja na vida de cada dia, você estará em silêncio dedicado, atento às “moções” — ou movimentos interiores —, para chegar a discernir a vontade de Deus, orientar suas afeições e acertar seus passos em Cristo, o Caminho da Vida Verdadeira.

Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola — em retiro ou no dia a dia — pedem silêncio consciente, atenção cordial, uma experiência que se deixa orientar, segundo um método, devidamente acompanhado por uma pessoa experimentada. Você pode usar este livro apenas intelectualmente, para tomar um contato com a metodologia. Mas se for fazer estes Exercícios, empenhe-se em ter alguém seguro para conversar e confrontar regularmente. Assim você não desanimará facilmente e sentirá sabor e descobrirá vida!

Lembre-se de que esta “caminhada” ou “corrida” não é à toa, mas para atingir “o fim que se pretende” (EE 23), como foi dito: “buscar e achar a vontade de Deus em todas as coisas”. Se você substituir a palavra “vontade” por “bondade” ou “sabedoria”, a expressão revelará a você alguma coisa de extremamente desejável!

Quem dá o ânimo e a inspiração é, necessariamente, o Espírito Santo. Inácio indica a pista, sugere o ritmo. O acompanhante que você conseguir testemunha a esperança e ajuda a manter o passo. Você se empenha. Se quiser, os Exercícios supõem quatro atores: o Espírito, você, Inácio e o acompanhante. Mas o Espírito e você são os principais!

Você segue a pista o melhor possível. É tempo de trabalhar, tempo às vezes trabalhoso… Mas tudo é graça, e é graça sua cooperação inteligente, persistente e generosa. Dê atenção afetuosa ao Espírito e às suas moções (inspirações, luzes) nos momentos de oração e ao longo do dia. Com cuidado, dê os passos para dispor-se à oração e aos conselhos, “adições”, que podem ajudar muito. Confie no pedido de graça. Não deixe de lado a revisão ou o exame de oração, assim recolhendo o que sobrou para que não se perca. Confira estes resultados ou frutos colhidos com o seu acompanhante, para discernir bem o que o Espírito lhe diz, hoje, na Igreja e nesta nossa humanidade!

A oração, segundo as lições de Santo Inácio, é “buscar e encontrar a vontade de Deus”. Como? Experimentando! Pois “não é o muito saber que sacia e satisfaz você, mas o sentir e saborear as coisas internamente” (EE 2).


EXERCÍCIO:

“Deus viu tudo o que tinha feito, e viu que era muito bom” (Gn 1,31)

Acalmo-me! Inicio este primeiro exercício detendo-me um pouco nas sensações do meu corpo. “Repasso” o meu corpo da cabeça aos pés. Minha respiração é a minha melhor amiga: dou-me conta da minha respiração. Presto atenção ao ar que entra e sai nas minhas narinas. Simplesmente vou sentindo… Pacificando-me, respiro mais profundamente, agradecendo este dom: o sopro da vida!

Rezo! Recordo-me das situações da minha vida quando alguém me elogiou, quando senti que alguém era grato e reconhecido a mim, ao que tinha feito: “Foi bom o que você fez!”. Dou-me conta da alegria, da intensidade de vida que se une à palavra “bom”! E tendo Deus criado o cosmos, os seres vivos, diz a Escritura: “E Deus viu que isso era bom” (Gn 1,26) Ao criar, porém, o homem à sua imagem e semelhança, lemos: “Deus viu tudo o que tinha feito e viu que era muito bom” (Gn 1,31)

Deus me diz: “Você é bom! Você é boa!”. Ele é a meu favor! Recordo os dons, as capacidades que dele recebi. O que o meu coração me diz? Paro. Saboreio. Agradeço. Posso constatar que o meu corpo é bom! Os meus pés são a base da minha locomoção, com eles posso ir e vir: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz boas-novas e anuncia a libertação…” (Is 52,7). As mãos, com as quais seguro com a ajuda dos dedos os objetos de trabalho… Percorro os sentidos nos seus pormenores tão perfeitos… Penso nos órgãos e suas funções: a respiração — que dádiva o ar que sustenta a vida! A visão, a audição, janelas abertas que me trazem as sensações e geram conhecimentos mil. O paladar, que aguça o apetite e faz que eu me alimente e sustente a vida… E os órgãos internos: o coração, verdadeira bomba que dá vida ao corpo; os pulmões, que providenciam a oxigenação do meu corpo. E o cérebro! Lembro a inteligência, a memória, a vontade e toda a capacidade de registrar sensações, emoções, pensamentos…

Com que sentimentos respondo ao meu Deus pelas dádivas e pelos benefícios recebidos, como ser humano criado? “Vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes” (Sl 8,6).

Quero experimentar este louvor de coração grato e contente? Digo a Ele, e até canto, se conheço, a melodia — sem pressa de ir adiante —, unindo-me a São Francisco de Assis:

Onipotente e bom Senhor,
A Ti a honra, a glória e o louvor!
Todas as bênçãos de Ti nos vêm e todo o povo Te diz: “Amém!”
Louvado sejas nas criaturas,
Primeiro o sol, lá nas alturas, clareia o dia, grande esplendor, radiante imagem de Ti, Senhor!
Louvado sejas pela Irmã Lua, no céu criaste, é obra Tua,
Pelas estrelas, claras e belas,
Tu és a fonte do brilho delas!
(“ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO”, PE. IRALA, SJ)

Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ