No Ano-Novo as pessoas têm o costume de fazer “propósitos”: emagrecer, deixar de fumar, ou de gritar, ou de “emburrar”, mudar de atitude, melhorar certos relacionamentos, rezar melhor… Acontece que você, eu, nós todos temos faltas conhecidas e reconhecidas. Compulsivas mesmo! Há quem, simplesmente, decide “não ligar” mais. Se não chega a se fazer cúmplice do mal, chega a desistir de se livrar dele. Admite o seu domínio. Não procura mais curar-se, salvar-se!
Estas faltas repetidas, do tipo compulsivo, têm raiz em processos subconscientes, inconscientes, em feridas psicológicas. Haveria algum meio, algum Exercício Espiritual que pudesse ajudar?
Inácio propõe um eficaz remédio: o “exame particular cotidiano”. É muito simples: quando o meu coração percebe que seria muito bom livrar-me de certa falta, confiro com Deus na oração. Peço a sua Graça. Quando sentir que Ele me dá ânimo, esperança, consolação, começo a “tomar providências”. Como?
Santo Inácio sugere um exercício de oração e atenção em três momentos:
1) Logo de manhã, ao levantar-se, deve a pessoa propor-se evitar, cuidadosamente, aquele pecado ou defeito particular do qual quer corrigir-se e emendar-se.
2) Depois da refeição (ao meio do dia), pedir a Deus nosso Senhor o que quer. Neste caso, a graça de recordar-se quantas vezes caiu naquele pecado ou defeito particular e de emendar-se para o futuro…
3) Depois da refeição da noite, fazer o segundo exame, hora por hora, desde o do dia anterior… Anotar, então, quantas vezes incorreu no tal pecado ou defeito particular (EE 24-26).
Em alguns casos ajudará anotar o número de faltas dia a dia: ele irá diminuindo. Inácio reconhece tão bons resultados nesta prática de oração que parece nos dizer assim: “Coragem! Em uma semana você verá que é melhor do que pensa!”.
E X E R C Í C I O :
“Exame particular” para vencer as faltas compulsivas
1º tempo: “logo ao levantar”, respiro fundo, duas ou três vezes, acolhendo a bênção do novo dia… Estou na presença amiga e companheira do meu Salvador, Jesus. Lembro-me do defeito do qual preciso me livrar. Reafirmo o meu propósito e lhe peço a graça.
2º tempo: no meio do dia, arranjo um momentinho de pausa e respiração. Na presença de Deus, dou-me conta do que me propus, com a graça d’Ele. Caí naquela falta? Peço perdão! Renovo o propósito. Peço a graça de estar livre e vencer-me nas próximas horas.
3º tempo: à noite, faço o meu exame habitual e também o meu exame particular.
Inicio repousando corpo, mente, coração, e dando-me conta dos sentimentos que ora vivo. Paro. Respiro fundo uma, duas, três vezes, até sentir-me em paz…
Ação de graças: nesta paz e silêncio interior, procuro perceber que sou envolvido(a) no amor de Deus. Sou cumulado(a) de bênçãos de todos os lados, em meio ao combate da vida. Agradeço. Louvo o Senhor!
Peço luz ao Espírito Santo e, nesta luz, meu coração se torna ainda mais grato. Nesta luz penetrante, tudo se torna mais transparente, e enxergo trevas, sombras… Tudo aquilo que na minha vida não corresponde à santidade divina…
Discernimento: repasso o dia, com o olhar da fé, procurando reconhecer os toques, os convites, as inspirações do Senhor. Vieram através da natureza, dos outros (mesmo dos que me contrariaram ou aos quais aborreci, entristeci…), do povo, das Escrituras, da Igreja, de uma leitura… Procuro analisar os momentos em que fui dócil ao Espírito: onde e como se manifestaram? De que fundo ou de que acontecimento eles brotaram? Como respondi?
Em que momentos fui sinal da presença de Jesus para as outras pessoas?
Tive vivências negativas? Dou-me conta de meu “pecado raiz”, das suas consequências, das minhas compulsões? Qual a minha área sensível, vulnerável?
Procuro lembrar-me, cuidadosamente, daquelas faltas em que caí, contrariando o meu propósito, no período da tarde. Falo com o meu Salvador e bom Médico a este respeito. Se for o caso peço perdão e cura. Se me ajudar, anoto o progresso obtido. Agradeço. Proponho deter-me neste ponto, com a graça dele, mais uns dias, uma semana, um mês, o tempo necessário para ficar livre! Para cumprir o meu “êxodo”.
Consciente de quanto falta para corresponder ao Amor gratuito do Salvador, tento voltar-me para Ele com todo o arrependimento que puder… Na certeza da vitória de Jesus sobre todo o mal, deixo nascer no meu coração sentimentos de confiança, alegria, admiração, desejo de conversão de pecador em filho de Deus.
Amanhã será melhor! Em humilde reconhecimento da minha pecaminosidade original, peço a Nossa Senhora, e depois a Jesus, ao seu Pai e Pai nosso, a graça do Espírito de sentir “a desordem de minhas ações, para que, detestando-a, corrija-me e me ponha em ordem”, como escreveu Santo Inácio. Confiante no Senhor, eu quero permitir que Ele guie os meus passos no caminho da retidão. Invoco a intercessão da Mãe de Deus e Mãe nossa também rezando uma Ave-Maria.
Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ