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Cartas de itaici


Princípio e Fundamento da Vida Humana (4) (EE23)

Da nossa parte, não queiramos mais saúde que enfermidade,
riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa
que vida breve, e assim por diante em tudo o mais,
desejando e escolhendo somente aquilo que mais nos conduz
ao fim para o qual fomos criados.
(EE 23)

Composição de lugar: periferia da grande cidade. Noite fria e com uma chuva fininha. Pais cansados, na maioria mães, acompanham os seus filhos à escola noturna. Temem a violência, a falta de policiamento. Protegem os seus “tesouros” com as próprias e frágeis vidas. Querem que sejam educados. Este é o fim que pretendem. Por isso, eles enfrentam o desconforto, o medo, o cansaço… Amam e, por isso, escolhem só o que mais ajuda a seus queridos.

Amar assim é amar de verdade. Preferir assim é preferir de verdade. Escolher assim é escolher na liberdade, sem se deixar desviar por mais nada, “desejando e escolhendo somente aquilo que mais conduz ao fim para o qual somos criados”.

Quem chega a descobrir, pela graça, pelo dom, pela resposta de bom coração — o que também é dom — como somos feitos de desejo de Bem, como somos criados por Ele e para Ele, vai pela estrada da vida evitando, sabiamente, todos os desvios e paradas inúteis. Evita desvios e paradas inúteis mesmo que se apresentem como luxo, esplendor, força, posição elevada, segundo a sabedoria do mundo.

Assim vão pelas ruas mal iluminadas os pais empobrecidos e injustiçados. Nós os contemplamos, escolhendo o que mais conduz ao fim que pretendem: a formação dos filhos. Lá vão eles, livres para servir e amar, na noite fria e ansiosa.

Assim vão os cristãos no seguimento de Cristo Jesus: “na glória ou no desprezo, na boa ou na má fama; tidos como impostores, mas sinceros; como desconhecidos, mas conhecidos; como moribundos, mas vivos; como condenados, mas livres da morte; como tristes, mas sempre alegres; como indigentes, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, embora tudo possuindo!” (2Cor 6,8-10).

Afinal, os que correm nas pistas de atletismo o fazem para conseguir o prêmio. Eles correm para ganhar uma fama passageira, um prêmio que não dura muito. Nós, porém, “corremos para ganhar um prêmio que não se acaba” (1Cor 9,24-25). Afinal, por que, por Quem vivemos? Já descobrimos que Ele, nosso Salvador, é o Caminho, a Verdade, a Vida?


E  X  E  R  C  Í  C  I  O  :
“Não andeis preocupados com a vida… Considerai como crescem os lírios do campo”(Lc 12,22.27)

Acalmo-me. Sento-me… Procuro estar confortável… Mantenho as mãos de modo acolhedor e repousado sobre o meu colo… Abro os olhos e vejo ou imagino ver a natureza: árvores, animais, céus com os seus pássaros, morros, a cidade, as pessoas… Vejo a natureza e aceito a serenidade que ela pode me transmitir… Vejo também a natureza em movimento: o frescor da manhã, o calor do meio-dia, as cores do poente, a escuridão da noite, as estrelas, a lua… Que mensagem os astros, as árvores, os bichos têm para me dar?

Pergunto ao Senhor o que ele tem a me dizer através destas coisas criadas e aguardo a sua resposta… Digo: “Senhor, agora todo o meu ser está aberto para rezar com a tua palavra”.

Rezo! Em Cristo, pelo seu Espírito, o ser humano tem a capacidade de fazer não só o bem, mas “o bem maior”. Peço a graça de me deixar conduzir sempre pelo Espírito de Jesus nas minhas escolhas, sempre crescendo em liberdade interior.

Tomo o texto de Lucas 12,22-23 para aprofundar a minha dependência de Deus, bom Pai, e procurar entregar-me com total confiança a Ele.

Passo o texto, versículo por versículo… Pauso… Deixo brotar sentimentos… Expresso o que me é dado saborear com pedidos, gratidão ou silêncio de adoração e acolhimento… O que vamos comer, beber, vestir? Os pagãos é que se preocupam com tudo isto. O Pai do Céu sabe muito bem do que precisamos.

Será que vivo a certeza da fé de que pertenço ao Senhor, seja qual for a circunstância em que me encontro? Rezo o que me ocorre…

O Espírito que habita em nós — em mim igualmente (Rm 8,9) — é quem dá forças para praticar o bem e ir mais adiante… Também Jesus nos disse: “Vocês farão obras maiores do que as que Eu fiz” (Jo 14,12).

Suplico ao Senhor: “Torna-me, Senhor, amadurecido(a) na Fé, e que as minhas buscas se voltem unicamente para o teu Reino em mim, nos outros e ao nosso redor”. Termino com o Pai-nosso.

Revejo, noto e anoto. Como vai indo o seu registro do que vai acontecendo nestes seus encontros pessoais com Ele?


Princípio e Fundamento (EE 23)
O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor, e, assim, salvar-se. As outras coisas sobre a face da terra são criadas para o ser humano e para o ajudarem a atingir o fim para o qual é criado. Daí se segue que ele deve usar das coisas tanto quanto o ajudam para atingir o seu fim, e deve privar-se delas tanto quanto o impedem. Por isso, é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é permitido à nossa livre vontade, e não lhe é proibido. De tal maneira que, de nossa parte, não queiramos mais saúde que enfermidade, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida breve, e assim por diante em tudo o mais, desejando e escolhendo somente o que mais nos conduz ao fim para o qual fomos criados.


Texto retirado do livro Cristo "Mais conhecer, para mais amar e servir!" - Edições Loyola - 2010
Autores: Maria Fátima Maldaner, SND / Pe. R. Paiva, SJ